quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sinais de uma Igreja-Diocese em Franco Processo de Amadurecimento.

Rev. Ivaldo Sales (¬)
“É meu dever legar ao meu sucessor e à posteridade uma
Diocese Anglicana neste território”
(+Dom Robinson Cavalcanti, ose – Bispo da Diocese do Recife)
A Igreja é um projeto de Deus. Seu fundador é o próprio Jesus Cristo: “Eu edificarei a minha igreja”, disse Ele. A Igreja não tem dono; Seu único chefe é o próprio Jesus – o Cabeça (Ef 1.22; 5:23; Cl 1:18), porém designou um grupo de doze apóstolos para cuidar dela. Estes, por sua vez, constituíram bispos para darem continuidade à tarefa a eles confiada (por isso, no contexto do Novo Testamento, a Igreja que ficou sob os cuidados dos apóstolos tem uma eclesiologia episcopal – At 20:28; Fp 1:1; 1Tm 3:1; Tt 1;7).
Mais tarde, os apóstolos deveriam constituir bispos porque estavam prestes a deixar esse mundo e irem juntar-se com o Senhor da Igreja. Os bispos, então, são os sucessores dos apóstolos do Novo Testamento. Sendo assim, ela é uma instituição divina e humana ao mesmo tempo.
Na sua dimensão humana, ela é visível e católica, consta de pessoas vindas de todas as tribos, línguas, povos e nações que professam sua fé no Nome daquEle que está acima de todos os nomes: Jesus Cristo, o Rei dos reis e Senhor dos senhores. A esta dimensão de Igreja, o Senhor Jesus Cristo deu o ministério dos oráculos e dos sacramentos para o amadurecimento dos santos assistidos pelo poder do Espírito Santo (At 1.8), até que Ele venha em glória (Segundo Advento).
Na sua dimensão divina, ainda que a dimensão humana esteja sujeita a erros e à degeneração, conforme reconheceu o reformador Martinho Lutero, ela sempre será uma Igreja Católica, Una, Santa e Apostólica, poderosa na terra, para adorar a Deus por toda a eternidade.
Segundo a Confissão de Fé de Westminster: “A Igreja Católica, que é invisível, consta do número total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, seu Cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas”.
A Diocese do Recife, em franco processo de amadurecimento, tem como uma de suas funções prioritárias, promover a cura substancial nas relações interpessoais que foram afetadas pela Queda (Gn 3), com base na obra consumada e completa de Jesus Cristo no espaço, no tempo e na história, há mais de 2.000 anos, numa cruz do monte Calvário.
Quando nossos primeiros pais pecaram, esta Queda desencadeou primeiramente um conflito de ordem espiritual ou teológico (entre Deus e o homem: “Quando ouviram a voz do Senhor... esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homem e sua mulher” (Gn 3:8). A tendência que os homens e as mulheres têm de fugir da presença de Deus é um reflexo da Queda (por isso, é nosso dever evangelizar, anunciar o evangelho da reconciliação). Outra tendência é a de responsabilizar Deus pelos problemas que existem no mundo (precisamos investir mais na formação de Escolas Dominicais, IATs e SATs, na formação apologética para dar respostas honestas a questionamentos sinceros; estarmos aptos para explicar a razão de nossa fé). No texto bíblico, fica claro que Adão acusou Deus de ter tido à ideia de criar a mulher: “a mulher que tu me deste como companheira” – Gn 3:12).
Em seguida, o conflito de ordem emocional ou psicológica: “ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi”, ficou perturbado, entrou em crise consigo mesmo (Gn 3:10). O crescimento das doenças psicossomáticas de nossa época que os psicólogos, os psicanalistas e psiquiatras têm se empenhado para estudar, compreender e combater tem suas raízes também nesta Queda. Neste sentido, recomendo o velho livro do Rev. Richard Baxter, “Superando a tristeza e a depressão com fé”, cujo conteúdo é antes da criação da psicologia moderna.
A crise de ordem sociológica, política e econômica vem logo em seguida: – a “mulher”, “ela me deu” (Gn 3:12) – a tendência de culpar sempre a outra pessoa, o próximo. Daí as guerras, a dedicação para entender as relações internacionais, a diplomacia e as missões de paz entre nações, além do esforço das forças armadas e da polícia para evitar a guerra e o derramamento de sangue entre os irmãos, as lutas de classe e a desigualdade social e manter a paz. A leitura dos cientistas políticos, cristãos, evangelicais e também anglicanos Robinson Cavalcanti e Paul Freston, são fundamentais para compreender estes aspectos e saber fazer leitura de conjunturas tanto no contexto em que vivemos como em níveis mais amplos.
E, finalmente, a crise de ordem ecológica ou ambiental. A terra sofre uma deformação, “maldita é a terra por causa de tua decisão; em fatigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo” (Gn 3:18). O surgimento das ervas daninhas, dos espinhos, das plantas venenosas bem como as mudanças climáticas, a morte dos manguezais, e destruição do meio ambiente, a poluição dos rios e derrubada das florestas, a extinção das espécies, as queimadas e toda a agressão da natureza sofrida pela ação do próprio homem, tem sua matriz última na Queda narrada no texto bíblico.
É muito importante que compreendamos que o dilema da raça humana, é, antes de tudo, um dilema moral. Nosso problema básico é o pecado, como nos lembra Francis Schaeffer, “uma culpa mora real (não apenas o sentimento de culpa), e um pecado moral real, porque pecamos contra um Deus que é real, e que é santo”.
Preciso ter pelo menos duas atitudes certas, diante do meu dilema: reconhecer e confessar o meu pecado objetivamente (1Jo 2:9) e arrepender-me e restituir a quem pequei, com base no caráter daquEle que me criou segundo à Sua própria imagem e semelhança. Não apenas para sentir um alívio psicológico, mas porque a restauração passa por estas atitudes.
A preocupação em defender e proteger a vida e a integridade da criação é uma das marcas vitais desta Igreja que se encontra em franco processo de amadurecimento. Como cristão evangelical e anglicano, me alegro de ter encontrado nesta parcela da Igreja de Cristo, um lugar de cura em todas as dimensões: físicas, espirituais, psicológicas e, até mesmo, ambientais, com base somente na graça de Cristo, em sua obra consumada, no tempo e no espaço, quando Ele foi à cruz por mim, morreu por mim, ressuscitou por mim e voltará segunda vez, por mim.
A construção de uma Diocese Anglicana e seu amadurecimento, sem dúvida alguma, passa pelas dimensões, de vida e de presença na história deste país.
É claro que há falhas neste processo de uma Diocese Anglicana a serem evitadas e corrigidas. Daí a importância dos Sínodos e Retiros, das ações desenvolvidas pelos secretariados em suas diversas temáticas. Mas, ainda assim, é uma construção bastante relevante no processo de amadurecimento em território brasileiro.
Que Deus, em Sua bondade, nos ilumine e encoraje a crescer não apenas em quantidade, mas igualmente em qualidade dentro de uma multidimensão de vida e de presença na sociedade em que vivemos. Para a glória do Seu Nome e pela dignidade do Seu Evangelho.


¬ Rev. Ivaldo Sales da Silva é Presbítero na Diocese do Recife; Assessor Diocesano para Defesa da Vida e da Criação; e membro da Ordem de Santo Estevão (OSE).
Contato: pastor.aids@yahoo.com.br

MISSÃO ANGLICANA COMUNIDADE DA PAZ