terça-feira, 13 de novembro de 2012

PELO DIREITO DE SER, CRER E DIZER.

 
 
Revdo. Maurício Amazonas, OSE
 
1. COMEÇO – Como membro-fundador do Fórum Diálogos, e enquanto clérigo da Igreja Anglicana – Diocese do Recife, sinto-me profundamente honrado por participar desta construção ao lado de tantas pessoas respeitáveis, fraternas e de fácil convivialidade. Há exatamente um ano e cinco dias, o Bispo Robinson Cavalcanti, de saudosa memória, me convidou para representar nossa Diocese perante o Ministério Público do Estado de Pernambuco, no evento embrião deste Fórum, às 14h do dia 7 de Novembro de 2011, na 7ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital / Promoção e Defesa dos Direitos Humanos. Ainda mais feliz fiquei por saber que o convite vinha assinado pelo já muito conhecido e justo defensor dos Direitos Humanos, o Dr. Westei Conde y Martin Júnior. Gostaria também de dizer da minha alegria em trabalhar nesta comissão ao lado do Revdo. Daniel Barbosa, OSE, meu irmão, amigo e companheiro de outras tantas lides.
 
2. FINALIDADE – Estamos aqui nesta manhã para dizer e tornar público que Pernambuco não tolera a intolerância religiosa. Somos seres criados para o diálogo, cujo resultado salutar sempre será a compreensão. Como cidadãos e cidadãs, somos livres e podemos crer, praticar e defender as nossas crenças, pública e livremente, sendo garantida a liberdade de culto a quem quer que seja, como reza a nossa Constituição (Art. 5º, VI). Isso implica que os diferentes devem conviver dentro dos mesmos espaços sociais, respeitando as diversas manifestações de crenças e cultos. Esta liberdade não implica em querer fazer com que o outro concorde com minhas crenças ou pensamentos, mas que cada pessoa tem o sagrado direito de ser, de crer e de dizer o que pensa. A contrapartida deste direito implicará no dever de deixar que o outro também seja, creia e diga o que pensa, mesmo que com ele não se concorde. Neste ponto, vale citar o Voltaire: “Discordo de tudo quanto dizes, mas dou a minha vida para que tenhas o direito de dizer”.
 
3. LAICIDADE – Na condição de Igreja e outros credos religiosos aqui representados, acreditamos e defendemos um Estado laico. Isso implica que Estado não pode ter uma religião oficial, nem muito menos “oficiosa”. Obrigação do Estado é garantir que todas as pessoas, organizações e instituições possam expressar suas ideias livremente. No entanto, os agentes do Estado devem entender que, “embora o Estado seja laico, a nação é religiosa”, como bem escreveu o Bispo Robinson Cavalcanti. Somos um povo com forte matriz religiosa cristã, africana e indígena. Mas aqui também se acolheu a prática do judaísmo, e islamismo, bem como filosofias orientais, como o budismo; e filosofias europeias, como os pensadores liberais, positivistas e ateístas.
 
4. PARTICIPAÇÃO – Sendo o Estado separado da Igreja, exatamente por isso queremos dizer que a Igreja não pode ser amordaçada em sua liberdade de expressão. Somos herdeiros de uma tradição superior a 4 mil anos de história e sedimentação de valores que nos são muito caros. Nós queremos mantê-los, tanto quanto outros grupos religiosos também querem manter suas práticas e liturgias. Mas também podemos dizer que muito temos a contribuir com o Estado e queremos fazer ouvir nossa voz no que diz respeito à propriedade e uso da terra, da moradia, da saúde pública, do aborto, da eutanásia, da guerra, da sexualidade humana, da educação para paz, sobre ecologia e meio ambiente, sobre questões do racismo, das mulheres, dos indígenas, da produção de alimentos etc. Também não podemos silenciar diante da corrupção e dos sistemas anti-vida que ensaiam tomadas de poder e dominação.
 
5. PREVENÇÃO – Já se disse que “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. Não podemos ignorar que a liberdade é conquista do povo organizado na luta pelos seus direitos. Liberdade não foi e jamais será prêmio dos poderosos e dominadores. Há uma tensão permanente entre os que querem preservar a liberdade e os que almejam cassá-la proibi-la. Estamos de olhos atentos contra toda e qualquer forma de cerceamento que venha coibir a crítica e o livre exame das ideias, pretendendo criar castas que não toleram o diferente e não permitem a expressão do contraditório. A Constituição do Brasil diz que “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. E diz ainda: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além de indenização por dano material, moral ou à imagem” (Art. 5º, IV e V). Está tudo aqui. Façamos cumprir a nossa Constituição do Brasil, promulgada em 5 de Outubro de 1988. O nosso País precisa conhecer e admitir a religiosidade do seu povo. Nossos filhos e filhas precisam crescer numa pátria livre e fraterna, que promova e acolha o diferente, em respeito e harmonia, garantindo que todos nós tenhamos publicamente o direito de ser, de crer e de dizer. Por isso lutamos e conquistamos. Isso nós temos e queremos preservar. Muito obrigado!
Revdo. Maurício Amazonas, OSE
Diocese do Recife - Comunhão Anglicana

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